sexta-feira, outubro 27, 2006

Mudança de Paradigma

As TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) estão a mudar, e com elas está a mudar a forma como vemos o mundo.
Com o advento dos computadores nos anos 60 as pessoas deslocavam-se ao computador. A geração seguinte tinha terminais "estúpidos". As pessoas não tinham de se deslocar ao computador, mas todo o processamento estava centralizado. Este modelo ainda hoje se aplica (com as devidas diferenças) nos Mainfraims. Foram os tempos áureos da IBM.

Deste modelo passámos à proliferação de PCs. Computadores pessoais por todo o lado, o processamento totalmente distribuído e custos de manutenção astronómicos. Foram (são) os tempos áureos da Microsoft.

A Sun com o Java, apoiada pela IBM tentaram voltar a mudar o paradigma. Em vez de um computador central passávamos a ter uma rede de computadores (a Internet) onde residiam as nossas aplicações e os nossos dados. Era uma espécie de regresso às origens mas com o processamento distribuído entre servidores e clientes (a nossa máquina). Esta tentativa pareceu falhar pois a Microsoft conseguiu "chutar" o Java para nichos. Apesar disso o pushing das tecnologias baseadas em Java e Linux continuou.

O Google (e não só) veio baralhar outra vez as coisas. As ofertas (gratuitas - passe a redundância) de webmail com espaço quase infindável para mensagens, de espaço par publicação de sites, de blogs, de agendas e mais recentemente de ferramentas de edição de texto e folha de cálculo, passando por inúmeras outras aplicações; tudo isto online, sem custos de manutenção, tem feito muita gente mudar para o Google. E estou a falar só do Google, existem no entanto muitas outras empresas a oferecer produtos concorrentes e/ou complementares destes. É o Google a "saltar em cima" da Microsoft.
Por exemplo, a aplicação "Docs&Spreadsheets" da Google permite usufruir de produtos concorrentes do Word e do Excel, online, que integram com os seus equivalentes da Microsoft, mas que permitem também colaboração. Neste momento estou a usar o blogger do Google para fazer este post, que de seguida submeterei ao spell-checker da barra do Google, quando publicado no meu blog estará acompanhado de publicidade da Google (adsense) e eu seguirei o seu pouco sucesso enquanto conteúdo via Google Analytics. Além destas ferramentas, no dia a dia uso ainda o webmail, o leitor de RSS e o Picasa (para as minhas fotos) todos da Google.
Claro que a Microsoft não está distraída. Está a lançar a versão live dos seus principais produtos. Nos EUA já é possível utilizar o Word e o Excel (entre outros) online. Mesmo por cá, o Messenger já está migrado para a versão Life.

Mas a grande questão, a grande mudança de paradigma, não está aqui. Aquilo para o qual queria chamar a atenção é para o facto de o império Google ser todo baseado na venda de publicidade. Os conteúdos não importam. O que importa é a sua capacidade de atrair visitantes e clicks (é verdade, por cada click que é feito na publicidade presente no meu site eu ganho algum dinheiro, e como eu mais alguns milhões de produtores de conteúdos). É para isso que a Google oferece ferramentas. É por isso que a Google comprou a Youtube. Pelas visitas e pelo facto de todos os dias milhares (milhões?) de pessoas lá colocarem voluntariamente conteúdos.

A procura de conteúdos para vender publicidade não é novidade. É este o negócio de todas as TVs em canal aberto. É este o negócio dos jornais (e não falo só dos de distribuição gratuita, nos outros o custo do jornal mal paga o papel). Foi essa a razão pela qual Ted Turner comprou uma equipa de basebol, comprou grande parte dos filmes clássicos de Holywood (pintou alguns deles) e fundou a CNN. A procura de conteúdos baratos que atraiam público.
E os conteúdos quando são pagos têm de justificar em share de audiência. Por isso as séries são escritas por forma a conseguir "sobreviver" aos intervalos publicitários sem serem vítimas do zapping. Todo o ritmo da narrativa dos argumentos televisivos é desenhado em função dos intervalos. São mecanismos eficazes de captar a atenção para publicidade sem que isso os prejudique em termos de audiência. A honrosa excepção é a HBO. Não vive da publicidade mas sim das subscrições.

Mas a realidade insiste em mudar, e muitos dos conteúdos deixaram de ser consumidos na TV, não vendendo desse modo publicidade, e deixaram de ser comprados, passando a ser "descarregados" da Internet ilegalmente. E por mais campanhas que se façam, esta é a realidade.
Por isso a responsável máxima da Disney disse que a pirataria tinha de ser encarada como um modelo de negócio. Claro! Desde sempre o que se procurou foram audiências. O que é que o acesso fácil aos filmes da Disney, via Internet faz? Aumenta as audiências globais desses conteúdos. Como lucrar com isso? Fácil. Da mesma forma que já o fazem: através do product placement, em merchandising, no Happy Meal da MacDonalds e de muitas outras formas. Não nos iludamos. Andamos a pagar os conteúdos que descarregamos ilegalmente da Internet. Paga-mo-los no centro comercial quando compramos os produtos que eles promoveram.

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